segunda-feira, 10 de abril de 2023


Autunescência

De pouco a pouco, o outono vai mostrando
À Natureza, os cíclicos enredos,
Enlanguescendo as florações, drenando,
O víride vivaz dos arvoredos...

Variados ancenúbios vão borrando,
A tela desses núperos degredos;
Onde os jardins, repousam relembrando,
Os tenros dias, estivais e ledos.

Assim, tal qual as estações, a vida,
Em um espelho símil se apresenta,
Sob uma orgânica ordem definida.

Pois, diante o tempo, e a foice tão voraz,
A fauna, a flora, o humano ser lamenta,
A primavera que ficou pra trás.

Derek S. Castro
Março/Abril de 2023

*Autunescência é um neologismo que eu criei.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

 


Poente Sobre Tela

Feito uma galeria, o firmamento
Expõe as obras de um oculto artista;
Tingido o poente de um viscoso unguento,
Tons quentes, carmesins, compõem a vista;

No qual o Sol, num último momento,
— Em uma rúbida paleta mista —
Contrasta o seu dourado macilento,
Diluído na paisagem intimista.

Texturas, sombras, luzes e camadas,
Combinam-se em precisas pinceladas,
Sobre o ocidente que se faz de tela;

Espátulas, solventes e pigmentos...
Ninguém conhece os raros instrumentos,
Da arte que a Natureza nos revela.

Derek S. Castro
Dezembro de 2022

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018


Autumnal Equinox

Veste o horizonte o tom crepuscular,
Diluências de outonais vermelhidões...
O ambiente traz a calma singular,
Nos firmamentos, nas imensidões...

Dos plátanos desprendem-se a tombar
As folhas em sonoras multidões;
O solo se parece amortalhar
Tingido por carnais colorações.

Os bosques, vales, rios, pradarias,
Afeitos por profundas letargias,
Prostram-se de um oculto saudosismo...

Avulta-se o equinócio sobre a terra.
O Outono a toda Natureza encerra,
No ciclo de seu grande misticismo.

Derek S. Castro
Novembro/Dezembro de 2018

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Os Quatro Ciclos

  Quadrilogia composta com Rafael Dalle Vedove


I. Primavera

Nasceu a flor primeira. Na alvorada,
O céu, um pálio azul de luz e riso.
Emana o Sol uma aura iluminada,
Num brilho de esplendor rico e preciso.

As florescências tomam formas, cada
Pétala é como um véu sedoso e liso;
A Primavera é a veste matizada,
Que a terra traja do fugaz paraíso.

As árvores se voltam pro universo,
E cada ramo canta como um verso
Que do âmago da vida surge, brota...

E do suntuoso altar da Natureza,
Formam-se os viridários da beleza,
Onde absoluta, a flora se devota!

***

II. Verão

Acende-se do estio a rubra chama
Que o firmamento todo se reveste.
O Sol em opulência se derrama
Nos raios de um incêndio azul-celeste.

Um mussitar longinquamente clama...
A se compor de um ciciar agreste;
É o canto das cigarras, que proclama
A cálida estação, que em som se veste.

Já do horizonte, no findar da tarde,
O Sol, como um brasão de fogo que arde,
Dá-se a deitar no seio da amplidão.

A noite adentra. E ao céu se estende um lenço
Que brilha nos fulgores de um incenso,
Coroando a clara fronte do Verão.

***


III. Outono

Declinam-se as paisagens lentamente,
Tingidas de saudades e abandono...
As folhas murmurejam pelo ambiente
A prenunciarem o solene Outono!

A terra, dantes rica, agora é doente,
Tornando-se esquelética, com sono.
O Sol, cantor dos astros... É silente...
Perdeu a refulgência, o viço e o trono.

Um manto de tristeza e decadência
Velando a relva, vai, pela cadência.
Dos pulsos já cansados da estação...

E tombam macilentas, meigas flores,
Sonhando a Primavera e suas cores,
No cântico outonal da solidão.

***


IV. Inverno

Por fim, chegado o alvor das invernias
Trazendo o véu palente dos nevoeiros,
A Natureza ao término dos dias,
Curva-se em seus momentos derradeiros.

A neve cobre os campos de agonias,
Os lagos se congelam por inteiros.
E gris, faz-se a paleta de ardentias
Que outrora ungia o topo dos outeiros.

Sem ter a luz do Sol que tudo aquece,
A fauna, a flora, tudo se adormece
Nos organismos álgidos da terra.

Do tempo, em sua célere fluidez,
Volteia a roda mística outra vez...
O ciclo natural, então, se encerra.

***
Derek S. Castro / Rafael Dalle Vedove
Julho de 2017

terça-feira, 18 de julho de 2017


Crucifixo

À meia-luz do claustro, do convento,
Das mãos em um rosário, entrelaçadas,
Absorta estava a freira em seu momento
Em orações, em preces devotadas.

Fitando a efígie do alto monumento
Analisava as formas buriladas;
Estava ali o Cristo macilento
Com as etéreas mãos na cruz, pregadas.

Vinha-se da janela vagamente
Uma centelha frouxa e alvinitente,
Que a face do alto Cristo iluminava;

E dessa luz, então, se ver podia,
Que a freira em seu orar não percebia,
Que o Cristo, a sua face, contemplava.

Derek SCastro
Julho de 2017

segunda-feira, 28 de outubro de 2013


Post-Mortem

As mãos de lapidadas estruturas,
— Em entretons palidamente frios —
Expunham invernais temperaturas 
Prostradas entre rendas e atavios. 

Aos seus cabelos de ondulados fios,
Pairava o olor de brancas flores puras,
Dispersas nos estofos tão macios
De um féretro de ilustres talhaduras. 

Pelos vitrais do templo, parcialmente, 
Uma luminescência alvorecente 
Banhava a sua face enlanguescida, 

A revelar feições de paz e sono,
Como uma típica manhã de outono,
Gelada, silenciosa, adormecida... 

Derek S. Castro
18 de Outubro de 2013
*Reescrito em Outubro de 2023

sexta-feira, 8 de março de 2013


Decadência Primaveril

Na minha vida, quando as tenras flores
Da infância germinaram olorosas,
Encheram-me a alma as formas vaporosas
De todos as venturas e furores;

Ao coração —  jardim de pulcras rosas —
Deram-se as primaveras dos amores,
Emanações de férvidos ardores,
Eflúvios de ilusões esplendorosas!...

Vestida em vaga glória e magnitude,
A minha enaltecida juventude 
Tão cedo se turvou das claridades;

Ao coração, restou-me dessas flores,
Somente as murchas pétalas das dores,
E uma coroa negra de saudades!

Derek S. Castro
18/19 de Fevereiro de 2013

sábado, 29 de dezembro de 2012

Caros leitores,

Venho comunicar sobre a publicação da Antologia “Lira da Morte” em versão impressa e também e-book.

Esta antologia reúne sonetos de poetas contemporâneos, porém com estilo clássico, inspirados pelos grandes poetas de outrora.

Com uma atmosfera melancólica e sombria, os versos que compõem tal obra vão desde declarações líricas à beleza morta e ao encanto noturno, até profundas reflexões sobre a morte, a solidão e a dor da existência.

São no total 57 sonetos, de 14 autores, sendo a maioria jovens, cada um com a sua singularidade, mas todos com o objetivo de jamais deixar morrer a verdadeira poesia.

Os ilustres poetas que compõe esta obra são:

Alysson Rosa
Arão Filho
Derek Soares Castro
Felipe Valle
Gabriel Rübinger
Ivan Eugênio da Cunha
Matheus de Souza
Maurilo Rezende
Nestório da Santa Cruz
Quintiniano
Renan Tempest
Rommel Werneck
Rosany Vieira
Sérgio Carvalho

Quem quiser obter o livro basta acessar o site Clube de Autores, ou o link:


Obrigado.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Mocidade e Senescência
              
Bateu-me à porta a prévia vetustez,
Quando me havia ainda mocidade;
Vi se enrugar em súbita acuidade
O celular vigor da minha tez.

Das minhas mãos, que outrora em avidez
Gozavam a fartar jovialidade,
Caíram no tremor da minha idade
Lançadas no torpor da languidez;

E os meus ouvidos dantes tão precisos...
E os lábios meus ornados pelos risos...
Tudo se foi... Assim já se conclui!...

Somente os olhos meus não se fanaram,
Pois, na retina — trágicos — guardaram
Essas visões remotas do que eu fui.

Derek S. Castro
12 de Dezembro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek S. Castro)

Nossas Lembranças...

                                                                   "Is it asking too much to be given time"
                                                                  (Stars "Dubstar Cover" - Lacuna Coil)


Em nossas velhas tardes outonais
Dentre estes mesmos pétreos monumentos,
Recordo-me os instantes tão cordiais, 
E a mocidade em nossos juramentos.

Dos túmulos, nas vias sepulcrais
Veladas de áureos mantos sonolentos,
Ouço hoje a fio, os passos teus, fatais,
No som dos teus coturnos temulentos...

E pelas tumulares lájeas, quando
Os olhos teus me surgem refletidos
Num olhar que se vai aprofundando;

Têm-me no cerne as dores mais queridas,
— Memórias eternais de tempos idos.
— Lembranças imortais de nossas vidas.


Derek S. Castro
15 de Outubro de 2012