terça-feira, 22 de novembro de 2011

Etapas de um Adeus (Trilogia)
(Com Alysson Rosa)

  
O Velório

Puseram-na no féretro, entre as flores,
Trajada em mortas sedas dum vestido;
Guardava em mãos um terço revestido
Por pérolas d'egrégios esplendores.
  (Derek)

Lembrava um anjo meigo adormecido!
Consigo, no caixão, levava as dores,
Mas ainda, no semblante sem fulgores,
Notava-se vestígios de um gemido...
  (Alysson)

E no interior da sala derradeira,
Na prisca longarina de madeira,
Tal carpideira em lágrimas se ajunta.
  (Derek)

Em volta do ataúde, negras velas
E a derreter também, choravam co'elas
Os entes mais chegados da defunta.
  (Alysson)

***

O Cortejo

Numa manhã luctífera e outonal,
Um préstito funéreo prosseguia,
Levando o frio esquife que possuía
O corpo duma musa sepulcral.
  (Derek)

A flauta, em abissal melancolia,
Acompanhando os passos do pessoal
Que acompanhava a morta, soava igual
À dor que o vento lúgubre assobia.
  (Alysson)

E nessa linda e triste melodia,
Além do soluçar, também se ouvia
Cantar chorando os anjos pelos céus.
  (Alysson)

E num caminho tétrico e eternal,
Seguia ao longe o préstito final,
Sumindo dentre os velhos mausoléus...
  (Derek)

***

O Funeral

Ao pé da vala a turba deplorava,
A olharem o coveiro preparar
O derradeiro abrigo, o atroz lugar,
Que a morta tristemente já aguardava.
  (Derek)

Enquanto triste o padre sufragava
As preces que pairavam sobre o ar,
A lura aberta ansiava devorar
A caixa em que a finada repousava.
  (Alysson)

O povo estava em pranto, soluçando,
Enquanto a fúnebre urna foi baixando,
P'ra então permanecer naquela cova...
  (Alysson)

Caíam brancas flores encobrindo
O lúrido ataúde que partindo,
Descia à terra lúgubre que o encova!
  (Derek)

***
Derek Soares Castro / Alysson Rosa
Novembro de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


Nossa Mocidade

                                                                    À Minha Amada

Lembras-te, Amor, dos tempos tumulares,
Daqueles brancos e marmóreos dias?
Que andávamos por entre as flóreas vias,
Na solidão dos túmulos, milhares...

Recordas-te também dos singulares
Anjos monumentais, de pedras frias?
Onde pousávamos as mãos esguias
Tateando as suas faces seculares...

Não deixa Amor, aos vis esquecimentos,
Não deixa que se olvidem os momentos,
Prende-os ao peito, torna-os imortais!

Guarda contigo todas as memórias,
Nossas vitais, miríades de histórias,
Que os tempos — Meu Amor — não trazem mais!

Derek S. Castro
7 de Novembro de 2011
*Reescrito em 27 de Julho de 2017.


terça-feira, 27 de setembro de 2011


As Minhas Mãos

As minhas mãos são mortiças, esguias;
Vagos fantasmas, perdidos e absortos,
Têm a frieza dos túmulos mortos
Das pedras brancas, marmóreas e frias...

Enlanguescidas, tão magras, vazias...
Têm os relvedos de fúnebres hortos;
E os dedos longos, ebúrneos e tortos,
Formam arcaicas colunas sombrias...

Têm o requinte de góticas naves,
Marmorizadas, regélidas, graves,
São assimétricas, lúridas, cruas!

Ah minhas mãos! Solitárias, errantes,
Tão cadavéricas, tristes, minguantes,
Nunca encontraram as sedas das tuas!

Derek Soares Castro

* Versos decassílabos no ritmo Provençal / Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª).

terça-feira, 30 de agosto de 2011


No Silêncio dos Túmulos

Ao fim daquelas tardes tão sombrias
Eu te esperava num marmóreo abrigo,
E, tu chegavas dentre algum jazigo
De passo em passo; e pulcra me sorrias.

Se me recordo o livro que trazias
Por entre aquelas alvas mãos, contigo;
Sentavas — minha amada — aqui comigo
E aqueles versos lúgubres tu lias...

Eu contemplando ouvia enternecido,
A sair do teu lábio enegrecido
A consonância de um som tão etéreo,

Que hoje, pareço estar inda escutando,
A tua voz melíflua recitando:
“O mar é triste como um cemitério!”

Derek S. Castro
Agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011


Flores Mortas

Junto das pequeninas mãos unidas,
— Que um místico rosário as envolvia —
Flores primaveris recém-colhidas,
Formavam uma fúnebre harmonia. 

As frágeis pálpebras adormecidas,
Magoadas de uma roxa cor sombria,
Lembravam duas pétalas caídas 
Enfatizadas sobre a face esguia. 

Trajada com requinte, em renda e linho,
Opacos véus azuis, com sutileza
Pairavam sobre o féretro de pinho, 

Que pondo-se a fechar, em trágica hora,
Guardava aquela angélica pureza,
Como um crepúsculo cobrindo a aurora. 

Derek S. Castro
23 de Julho de 2011
*Reescrito em Outubro/Novembro de 2023.