terça-feira, 30 de agosto de 2011


No Silêncio dos Túmulos

Naquelas tardes, sob as ramarias
De velhas e outoniças gameleiras,
Eu te aguardava, contemplando as vias,
E o farfalhar das folhas altaneiras; 

Nas alvas mãos, um livro tu trazias,
A vir por entre as campas derradeiras,
Sentavas junto a mim —  e então sorrias,
Folheando a tez das páginas primeiras... 

Tu entoavas... E as palavras no ar,
Moldavam-se ao melífluo rumorar
Das folhas em um recital etéreo. 

Que hoje, se me aprofundo relembrando,
A tua voz —  escuto — recitando: 
“O mar é triste como um cemitério!”

Derek S. Castro
Agosto de 2011

*Reescrito em Junho de 2025.
*O verso final é de autoria do poeta Augusto dos Anjos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011


Flores Mortas

Junto das pequeninas mãos unidas,
— Que um místico rosário as envolvia —
Flores primaveris recém-colhidas,
Formavam uma fúnebre harmonia. 

As frágeis pálpebras adormecidas,
Magoadas de uma roxa cor sombria,
Lembravam duas pétalas caídas 
Enfatizadas sobre a face esguia. 

Trajada com requinte, em renda e linho,
Opacos véus azuis, com sutileza
Pairavam sobre o féretro de pinho, 

Que pondo-se a fechar, em trágica hora,
Guardava aquela angélica pureza,
Como um crepúsculo cobrindo a aurora. 

Derek S. Castro
23 de Julho de 2011
*Reescrito em Outubro/Novembro de 2023.